O manicômio judicial ainda existe? A verdade por trás das medidas de segurança no Brasil.
- Sebastião Vinícius Vieira
- 15 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de jul.
Milhares de pessoas com transtornos mentais estão presas no Brasil, mesmo após pareceres que atestam que não representam mais perigo. Isso acontece por conta das chamadas medidas de segurança — um mecanismo jurídico que, apesar de previsto em lei, perpetua a lógica manicomial e viola a dignidade humana. Neste artigo, explico como isso funciona e por que precisamos repensar essa prática urgente.
O que são as medidas de segurança?
Previstas no Código Penal brasileiro, as medidas de segurança são aplicadas a pessoas consideradas inimputáveis ou semi-imputáveis, ou seja, que por razões psíquicas ou de desenvolvimento mental não têm plena capacidade de entender o caráter ilícito de seus atos. Em vez da pena, o Estado impõe um tratamento compulsório em hospital de custódia (o antigo manicômio judicial). Na teoria, a medida seria terapêutica. Na prática, é uma forma de prisão com prazo indefinido.
A lógica do manicômio judicial
O que deveria ser tratamento se transforma em punição disfarçada. O indivíduo perde sua identidade, sua autonomia e o direito de decidir sobre a própria vida. Está sob vigilância constante, com rotinas mecânicas, sem acesso adequado a profissionais de saúde mental ou a defesa jurídica efetiva. O manicômio judicial une o pior da prisão com o pior do hospital psiquiátrico.
Os dados que chocam: abandono institucional
Um relatório do Conselho Federal de Psicologia (2015) revelou que mais de 40% das pessoas internadas sob medida de segurança permanecem presas mesmo após laudos atestando que não representam perigo. Além disso, apenas 17% das unidades cumprem o prazo legal para revisão pericial (anual, segundo a lei). Sem acompanhamento jurídico ou estrutura de atendimento, muitos simplesmente ficam esquecidos pelo sistema.
Omissão do Estado e violação de direitos
A Lei 10.216/01, conhecida como Lei Antimanicomial, prevê que a internação é medida extrema e só deve ocorrer quando esgotados os recursos extra-hospitalares. Apesar disso, o sistema penal-psiquiátrico insiste na lógica da contenção. O resultado é uma população invisível, aprisionada sob a roupagem da saúde, sem tratamento real e sem perspectivas de liberdade.
Existe saída?
Sim, mas exige mudança de paradigma:
Fortalecimento da rede de atenção psicossocial;
Respeito aos limites legais das medidas de segurança;
Presença obrigatória de advogados nos processos e exames;
Tratamento como direito, e não como punição encoberta.
A medida de segurança não pode continuar sendo uma prisão perpétua disfarçada de cuidado.
Conclusão
Precisamos parar de aceitar como normal o encarceramento de pessoas em sofrimento psíquico. O que se vê é uma estrutura falida, que finge tratar e apenas isola. A dignidade humana não pode ser descartada em nome da segurança pública.
Se queremos um sistema de justiça verdadeiramente humano, é hora de abandonar o modelo manicomial de uma vez por todas.



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